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GR22 Aldeias Historicas – 2009

DIA 1 – 19 de Abril 

Monsanto, Idanha-a-Velha, Proença-a-Velha, Aldeia de Santa Margarida, Orca, Atalaia do Campo e Castelo Novo. 
Finalmente começámos a pedalar!  
O dia começou cedo (encontro marcado em Azeitão pelas 4 da manhã) pois a viagem de carrinha ia ser grande, demorada e cansativa. 

Assim que nos encontrámos, deu para perceber que a “naftalina” estava em alta e o entusiasmo esteve sempre presente durante a viagem que acabou por ser rápida (pelo menos assim pareceu) e depois de resolvermos alguns contratempos antes do arranque (um pneu que rasgou durante a viagem em contacto com o disco de travão de uma outra bicicleta) começámos a pedalar na Aldeia de Monsanto (felizes por começar a descê-la, mas consciente que esse será o ultimo desafio que iremos enfrentar no sábado dia 25 de Abril). Devo salientar que este será um percurso com grande suporte tecnológico (GPS) pois ao contrário dos trilhos de Santiago, estes estão num péssimo estado de conservação, impossíveis de navegar á vista. Os principais pontos de passagem desta tirada foram: Monsanto, Idanha, Proença, Santa Margarida (aquela sandocha soube a marisco!) e Castelo Novo (onde vamos pernoitar). Surgiram os primeiros sinais de desgaste e a consciência de que no dia seguinte o desafio seria incomparavelmente mais difícil (passando de 800 metros de acumulados para mais de 2.500 metros) e por isso tivemos de encarar o dia seguinte de outra forma: fomos lentos, juntos e na certeza que seria o dia mais penoso desta provação.

DIA 2 – 20 de Abril 

Castelo Novo, Louriçal do Campo, São Vicente da Beira, Pereiros, Partida, Alqueidão, Meãs, Cova, Covanca, Fornea e Piódão. 
Foi o dia de BTT mais difícil da nossa vida, é desta forma que podemos caracterizar o desafio que tivemos de enfrentar. Foram 85km de puro sofrimento, mais de 2.500 metros de subida acumulada e a mesma distancia a descer. Para terem uma ideia do que apanhámos pela frente, começámos a pedalar pelas 8 da manhã e chegámos a Piódão ás sete da tarde (foram mais de 2 horas a subir trilhos verticais com a princesa a ser levada pelas mãos). Está bem que tivemos algumas paragens forçadas, o que aumentou muito o tempo global do dia mas foi duro, muito duro. Para os menos atentos, ter 2.500 metros a descer parece ser uma “coisa boa” mas a atenção tinha que ser redobrada, não só pela diminuição de reflexos ao longo do dia como pela inclinação das descidas (um de nós chegou a queimar os dedos quando no fim de uma descida resolveu ver as folgas no disco do travão …). 
Foi o bar do Inatel em Piódão o local escolhido para recuperar para aquele que nos cheira ser o segundo dia mais difícil da nossa vida de BTTistas. 

DIA 3 – 21 de Abril

Pode parecer uma repetição, foi o 2º dia de BTT mais difícil da nossa vida. Foram 76km muito duros, cerca de 2.300 metros a subir e a mesma distancia a descer. A saída de Piódão, até prometia um arranque tranquilo, mas após meia dúzia de kilometros, tivemos uma descida longa, técnica, dura que deixou marcas nos pulsos e nos músculos das perdas (nunca tinha visto discos e travões a fumegar, quase incandescentes). 
Mas, como nestas coisas do BTT depois de uma grande descida vem sempre uma subida que nunca mais acaba, fizemos uma abordagem vertical a uma verdadeira parede no meio da serra. Quando pensávamos que não ficava mais duro, entrámos no alcatrão para atacar a subida até á Lagoa Comprida. 
A meio (ela nunca mais acabava…) acabámos por ficar sem água e o que nos valeu foi o degelo no topo da serra que criou uma serie de pequenos riachos providenciais (não vou falar em nomes, mas um de nós chegou a beber agua da valeta que corria ao longo da estrada. Agua corrente não mata gente como se diz nestas paragens).

Neste percurso, passámos sempre pelo topo da montanha, passando por diversas barragens e terminando a dose do dia em Linhares da Beira, ao fim de mais de 6 horas a dar às canetas. 
A noite foi passada na Taberna do Alcaide e o repasto promete ser valente suficiente para nos deixar prontos para a sova do dia seguinte!

DIA 4 – 22 de Abril 

Linhares, Carrapichana, Mesquitela, Vila do Soeiro da Chão, Muxagata, Aldeia Nova, Venda do Cepo, Moinho, Quinta de Cima, Moreirinhas, Rabaçal e Marialva.
Hoje é o dia mais fácil desde o início desta maratona de 7 dias. Os meus companheiros não sabem, mas vou tirar a prova dos nove pois sinto-me pior de dia para dia (acho que aquele Tróia – Sagres em 7 horas, 1 semana antes das aldeias históricas deixou marcas de desgaste muito maior do que eu pensava). 
O dia correu tranquilo com algumas subidas e descidas, mas num piso rolante e sem grandes problemas. No entanto, tivemos um furo (na realidade a mesma roda rebentou 2 vezes – Pneu novo mas de fraca qualidade) e um episódio engraçado: 
A determinada altura, o GPS indicava que devíamos atravessar um Rio, mas o caudal era muito grande e perigoso. 
No início, a intriga foi grande: “como é que os companheiros anteriores – dos quais sacámos os trilhos de GPS, conseguiram atravessar isto?” Depois de alguma confusão, alguém lembrou-se que tinha visto o Blogue deles com uma fotografia tirada neste local, onde estavam a tomar banho.

Ora banho no rio, significa verão e verão significa caudal mais baixo do que este…..e agora? Não fosse o nosso amigo Francisco vir ter connosco na Carrinha e tínhamos de fazer uns 15km a mais para encontrar uma ponte. 
O dia terminou em Marialva, com 65km de BTT e uma altimetria acumulada de 1.300 metros. 
Para mim, foi o meu último dia da volta às Aldeias Históricas pois cheguei ao Hotel em Meda em condições pouco recomendáveis. Sabendo que ainda faltavam mais de 200 km (ainda que mais fáceis) para o final, optei por terminar a minha aventura pois não queria arranjar lesões nem colocar os meus companheiros em perigo (isto fica perto do fim do mundo sem estradas por perto…..) Os últimos 3 dias são narrados pelo José Cristo.

DIA 5 – 23 de Abril 

Marialva, Gateira, Juizo, Freixeda do Torrão, Castelo Rodrigo, Almofala, Vermiosa, Vale de Coelha e Almeida.
Infelizmente tivemos que nos despedir do nosso colega do pedal Luís Gomes. Trocámos ainda duas suspensões antes da viagem de carrinha de Mêda para Marialva. Começámos a pedalar já por volta das 9 horas da manha. Vários percalços como dois furos e uma corrente partida. 
Tivemos dois abastecimentos durante o percurso com um frango assado incluído. O ponto forte desta etapa foi a descida ao Rio Côa, com uma subida à altura e mais uma sova nas pernas. 
Esta foi a etapa que nos permitiu a consolidação de todas as mazelas acumuladas no segundo e terceiro dias, abrindo uma fresta de sucesso na nossa tarefa. Não tivemos enganos de maior e chegámos a Almeida por volta das 5 da tarde. Ao jantar fomos servidos com uma posta mirandesa, com muita proteína, que estava deliciosa.

DIA 6 – 24 de Abril 

Almeida, Ansul, Leomil, Castelo Mendo, Freineda, Aldeia da Ribeira, Rebolosa, Alfaiates, Souto, Sabugal e Sortelha.
Partida de Almeida às 8:30 horas para a etapa mais comprida, dois pontos de abastecimento, primeiro aos 20 quilómetros em Castelo Mendo e o segundo na Aldeia da Ribeira ao km 5, com café incluído. Etapa principalmente rolante com alguns “planaltos”, travessias de vários ribeiros e alguns quilómetros mais técnicos, dificuldade esteve mesmo na distancia de 92 kms. Como de costume, a terminar com uma subida a um castelo, neste caso ao de Sortelha. Ao km 65 ‘embrulhanço’ entre o Carlos Trancadas e o Paulo Rocha, com queda do último, que ficou em estado de croquete passado por farinha castanha, sendo esse o único resultado de uma queda que até foi aparatosa e gerou alguma apreensão. Jantar em pleno castelo de Sortelha, com uma sobremesa de requeijão e doce de abóbora, simplesmente delicioso e merecido. O alojamento foi em turismo rural na “Casa da Cerca” com direito a uma sala com lume de chão, nota de distinção para este alojamento.

DIA 7 – 25 de Abril 

Sortelha, Meimão, Meimoa, Aldeia do Bispo, Aldeia de João Pires, Relva e Monsanto.
Partida de Sortelha ás 8:30 horas, após um bom pequeno almoço, começámos logo a subir, o que neste caso foi uma ajuda, pois estavam 6 graus de temperatura, efectuámos 5 quilómetros pelo traçado por onde tínhamos chegado até virarmos à direita e entrarmos numa nova rota. 
O percurso em si teve uma dificuldade média/alta com 3 “picos” e a chegada a Monsanto com aproximadamente 7 quilómetros sempre a subir. 
O abastecimento foi no km 35, proporcionado mais uma vez pelo incansável colega do pedal Francisco Neves. Esta foi uma etapa com sabor a vitória e efectuada a bom ritmo, pois sabíamos que era ali o concretizar de um grande esforço. 
Mesmo a subida final foi efectuada a bom ritmo e com o grupo coeso, concordando todos que até era fácil, bastava pensarmos em todas as dificuldades que já tínhamos ultrapassado. 
A vista que Monsanto nos proporcionou foi completamente diferente da que vimos à partida, com uma sensação de congratulação e já sem qualquer ansiedade.

Conclusão: 

    Apenas gostaríamos de acrescentar, porque sabemos que seguimos alguém e alguém nos seguirá, que a Rota das Aldeias Históricas superou todas as nossas expectativas, quer pela dureza, quer por tudo o que de belo a envolve. A preparação, por muito boa que possa ter sido, nunca a consideramos suficiente, quer a nível físico, quer logístico. Todas as expectativas se podem ver goradas ao fim de quilómetros e quilómetros com desníveis, em algumas etapas de 2500 metros e noutras, com mais de 90 quilómetros. O frio e a chuva que temíamos não se verificaram, o que fez com que durante dias transportássemos roupa para o frio e chuva sem qualquer necessidade, tendo que ter isso sim como aliado o protector solar. A entreajuda, a solidariedade e o companheirismo foram colocados várias vezes à prova, com diversas avarias e principalmente furos, vencidos com o saber do mecânico de serviço Carlos Trancadas. A logística, esse grande monstro, foi principalmente dominado pelo Cristiano Carvalho e pelo José Ribeiral, com a ajuda de todos os outros.
    A Rota em si está mal marcada e apenas os GPS (três) nos permitiram efectuá-la, sendo impossível, a nosso ver, seguir o trajecto pelas marcas existentes, uma vez que, ou simplesmente não existem, ou estão caídas e imperceptíveis. Os GPS foram uma forma quase infalível e que apenas nos suscitou algumas dúvidas momentâneas, que, entre todos, com os enganos incluídos, depressa resolvemos. 
    A alimentação foi outro importante factor e constatámos que as barras energéticas e os geles não são decididamente solução para vários dias de andamento em bicicleta, o próprio organismo não tolera tais erros. As sandes e a fruta acabaram por ser a alimentação mais recorrente, com a inestimável ajuda do nosso companheiro do pedal Francisco Neves, que nos encontrava a meio dos percursos e nos fornecia alimentação para podermos continuar, chegando inclusive a presentear-nos com um frango assado a meio de uma etapa. A verdade é que se fazem muitos quilómetros em que não é possível encontrar um estabelecimento onde seja possível comer. É notória a desertificação nas aldeias e locais por onde se passa e onde a população é bastante envelhecida. 
    Os caminhos não são maioritariamente técnicos ou em ‘single tracks’, sendo poucos os que existem. O alcatrão é raro e quando aparece até agradecemos pois o tratamento que já levamos nas pernas não nos deixa margem a esquesitices. As “paredes”, essas sim, são muitas e aí é preciso desmontar, pois mesmo para quem ainda tem forças nas pernas, a roda da frente teima em levantar e é impossível continuar. O inverso também acontece e onde no fim das descidas as dores nas mãos são muitas e os travões aquecem de tal forma que quando paramos começam a estalar do arrefecimento. Que o diga o Ismael que no fim duma dessas descidas decidiu “apalpar” os ditos discos, tendo ficado inacreditavelmente com umas bolhas nas pontas dos dedos (por que será?). 
    A Rota das Aldeias Históricas vai certamente ficar nas nossas memórias e não sabemos se voltaremos a ter oportunidade para repetir tal proeza herculeana, mas quem ama esta nossa actividade sente uma alegria enorme em ter adquirido uma experiência de sete dias seguidos de puro BTT, em boa companhia. Apenas a lamentar a desistência do nosso colega do pedal Luís Gomes, embora o próprio certamente o lamente ainda mais, mas nem todos os imprevistos são superáveis e para ele não foi. Um esforço anterior acabou por o atraiçoar. Certamente não lhe faltarão outras oportunidades. 
    Por fim, fica um grande agradecimento às nossas famílias, que mais uma vez tiveram paciência e encorajaram-nos, ao condutor Francisco Neves e aos patrocinadores. 

Narrativas de Luis Gomes e José Cristo

Dia 19/04/2009 * Domingo

60,84 Km (Altitude desde 276 para 632 Metros)

Subida acumulada: 811 Metros, Descida acumulada: 846 Metros

Dia 20/04/2009 * Segunda-Feira

85,5Km (Altitude desde 356 para 1.162 Metros)

Subida acumulada: 2.582 Metros, Descida acumulada: 2.468 Metros

Dia 21/04/2009 * Terça-Feira

76,30Km (Altitude desde 285 para 1.649 Metros)

Subida acumulada: 2.361 Metros, Descida acumulada: 2.292 Metros

Dia 22/04/2009 * Quarta-feira

66,00Km (Altitude desde 285 para 1.649 Metros)

Subida acumulada: 2.361 Metros, Descida acumulada: 2.292 Metros

Dia 23/04/2009 * Quinta-Feira

78,00Km (Altitude desde 278 para 803 Metros)

Subida acumulada: 1.111 Metros, Descida acumulada: 961 Metros

Dia 24/04/2009 * Sexta-Feira

89,90Km (Altitude desde 554 para 888 Metros)
Subida acumulada: 1.237 Metros, Descida acumulada: 1.211 Metros

Dia 25/04/2009 * Sabado

70,00Km (Altitude desde 396 para 872 Metros)
Subida acumulada: 861 Metros, Descida acumulada: 971 Metros

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